Quer coisa melhor que ver o pôr de sol? É de graça! |
Não quero dizer aqui que sou uma total altruísta e que o Ter não faz parte da minha vida. É claro que faz. Só que tento dar um valor menor para ele e não o deixo dominar minha ações. Não vivo para ter coisas, cada vez mais coisas, comprar, consumir, me exibir, ter o último modelo, o mais caro, o mais lindo, o melhor, depois de um ano ou seis meses, jogar fora e comprar tudo de novo. Não vivo para ter uma casa linda e maravilhosa com cinco suítes num condomínio de luxo, um carro ultra mega power maravilhoso grande e caro, um iphone, um ipad, um ipod, um itudo (eu mal sei ligar meu celular - que não é um smartphone, imagina então conciliar todos esse is), um armário lotado de roupas de marcas caras. Não vivo para ir ao dermato todo mês, fazer zilhões de tratamentos estéticos, gastar toda minha energia (e dinheiro) tentando rejuvenescer sendo que eu deveria estar gastando-a para me enriquecer, espiritualmente, é claro.
Pois é, ainda bem que eu sou da turma do Ser, porque se fosse da turma do Ter eu tava ferrada. Como eu iria arranjar dinheiro para manter esse padrão de vida absurdo? Eu teria que ralar muito, mas muito mesmo. Trabalhar insanamente, 24/7, always, toujours, non-stop. (acho que nas atuais circunstâncias para manter o tal padrão acima citado eu teria que virar política, mas vamos dizer que não, pois políticos não trabalham muito, e daí a historinha a seguir ia perder a graça). Continuando... mas aí eu sairia do trabalho, pegaria meu possante de luxo com o manobrista, chegaria em casa no fim da noite pensando que eu tenho que tomar cuidado pois posso ser assaltada a qualquer minuto, iria ver meu filho (já dormindo), zapear os 500 canais da minha mega power TV, não assistir nada de tanto sono, e dormir no meu lençol de seda da minha cama extra-king para acordar no dia seguinte as 6 da manhã para recomeçar a rotina de todo dia.
Mas pera aí: e quando é que eu vou aproveitar todas as coisas lindas, modernas e maravilhosas que eu comprei? Pois é, talvez nunca. Não vai me sobrar tempo. E seu eu tiver tempo não terei disposição. E se eu tiver tempo e disposição, talvez eu tenha medo de sair na rua com as minhas jóias, então elas ficam no cofre e eu saio com as bijuterias mesmo.
Acho que eu não preciso continuar, você entendeu meu ponto de vista né. Eu enxergo a vida assim: a gente tá aqui pra viver, Ser feliz e fazer coisa legais. Na medida do possível a gente compra algumas coisas bacanas que nos proporcionam momentos agradáveis, a gente gasta uma grana com porcarias, trabalha pra pagar as contas (porque não importa o quanto você seja bicho-grilo, você sempre terá contas pra pagar), e a gente investe em si próprio. Investe em cultura, conhecimento, educação, investe construindo relações humanas, ampliando nossos horizontes, transmitindo valores positivos, ensinando, sendo ensinado, exercendo a cidadania e ajudando a construir, mesmo que com minúsculos gestos, um mundo mais sustentável, mais justo e mais feliz.
PS: Nem em um milhão de anos, mesmo trabalhando 24/7 eu conseguiria ter uma casa com cinco suítes, um mega carro, todos os mega gadgets, etc etc etc... Isso foi só um exemplo hiperbólico de como muitas pessoas fazem de tudo para "subir na vida" e se esquecem de que viver é muito mais do que usar o cartão de crédito.
PS2: Por coincidência uma amiga postou hoje em seu FB um texto que eu já havia lido há um tempo que fala justamente do alto padrão de vida buscado pela classe média brasileira. O texto compara a vida da classe média no Brasil com a da classe média européia. Acho que futuros imigrantes se identificarão com a idéia geral. Se você se interessou, leia aqui.
E para encerrar fica uma música do Vampire Weekend cuja letra diz:
"Every dollar counts
Every morning hurts
We mostly work to live
Until we live to work"
Bisous!
O que vale a pena TER é experiência de vida e não bens materiais! :)
ResponderExcluirÓtimo o texto sobre a classe média européia e brasileira.
Beijo,
Flávio