Muito rolou desde a última vez que escrevi. Já faz mais de seis meses que cheguei e posso dizer que no geral estou satisfeita com a vida por aqui. É lógico que sempre existem os dias ruins, mas no geral eles não chegam a 10% do meu tempo. O que mais pega é a falta das pessoas queridas que não estão aqui comigo. Tem dias que eu passo muito tempo me imaginando no Brasil, com eles, jogando conversa fora e dando risada, como costumava ser... e posso dizer que é muito difícil você acompanhar a vida dessas pessoas à distância. Dá um aperto no peito, mas passa. Outro dia quase chorei no ônibus pensando que eu tava aqui, num país tão bom, tão mais justo, mais decente, mais seguro, e minha família lá no Brasil, passando medo, insegurança, pagando caro por tudo e recebendo tão pouco em troca. Mas não tem jeito: não é todo mundo que quer sair do seu país, mesmo com todos problemas que ele tenha. Não é todo mundo que tem a vontade, a coragem, a disposição e o desprendimento necessários para largar tudo e recomeçar do zero, com mil incertezas na cabeça e muito esperança no coração. E há de se respeitar. Eu sou a exceção e tenho que lidar com isso. Para se ganhar algo é preciso perder algo. Acho que esse sentimento de solidão e tristeza que bate às vezes está muito relacionado com o fato de eu estar aqui sozinha (dããã!!!). Fiz muitos amigos e eles são demais, pessoas maravilhosas, mas é diferente de quando você volta pra casa à noite e encontra a tua família alí. Porém esse foi um dos motivos que me fez vir pra cá: começar a minha família num lugar melhor, com mais oportunidades pros meus filhos (se eu os tiver), mais liberdade, mais segurança, enfim, todo aquele bla bla bla que todo imigrante conhece.
Bom, deixando de lado um pouco o sentimentalismo, vamos ao lado prático: estou trabalhando.
Não posso dizer que foi difícil consegui-lo. Comecei a procurar emprego em meados de julho, depois do fim da francisação, mandei vários CVs, me cadastrei em alguns sites, segui algumas das orientações da conseillère d'emploi, e duas semanas depois fiz minha primeira entrevista numa agencia de recrutamento. A RH disse no final que tinha uma vaga pro meu perfil e ia me indicar. Tive que fazer umas seis provas diferentes de inglês, francês, informática e afins, e uma semana depois fiz outra entrevista pra mesma vaga, já na empresa, com o diretor da área. Eu saí de lá pensando que tinha ido bem, o que era bom, mas que a vaga não era legal, o que era ruim, pois se seu passasse eu não ia ter coragem de dizer não e continuar desempregada e acabaria trabalhando com algo muito chato que não me estimula nem um pouco. E foi o que aconteceu. E pra piorar tudo eu moro em HOMA e trabalho em Ville St-Laurent, uma hora e meia pra ir e uma e meia pra voltar, todo santo dia. Ultimamente saio de casa ainda tá escuro e quando chego, já tá escuro de novo (pelo menos a janela do meu bureau é bem grande e consigo ver o sol a tarde toda). Pra quem tava acostumada à uma caminhada de 25 minutos pra ir ao trabalho, não é facil. Meu pior pesadelo se concretizou: perder três horas da minha vida todo dia no trânsito. Mas tenho que dizer que estou acostumando. Tenho lido muito durante o trajeto e quando o livro é bom, ajuda muito. Quando bate a tristeza, o desespero, o "o que que eu to fazendo aqui?", penso que isso é passageiro. Penso que ainda no Brasil eu imaginava que meu primeiro emprego ia ser tão ruim que mal daria pra pagar o aluguel mais o supermercado. E no fim das contas foi mais fácil do que esperava. O que não significa que esteja sendo fácil. Pois não está.
Estou feliz no trabalho? Não. Mas apesar de tudo agradeço todos os dias pelo fato de ter um trabalho que paga as minhas contas e que vai me ajudar no futuro a conseguir um emprego melhor.
Ainda procuro o pote de ouro no fim do arco-íris. Uma profissão nova que me faça feliz. Mas tá nada fácil achar. Like always I will have to compromise on something... we will see.
To achando que o post tá meio depressivo, então vamos falar de coisas mais alegres:
Adoro Montréal. Adoro andar pelas ruas da cidade, ver a vida passar, ver a paisagem.
E falando em paisagem: o outono! Lindo, maravilhoso. Sempre foi minha estação favorita, mesmo no Brasil, e aqui então, nem se fala. Fico babando nas árvores coloridas, tão lindo que só estando aqui para sentir como uma coisa tão "banal" como a mudança da estação pode ser tão maravilhosa. A natureza é mesmo incrível.
Adoro as mil opções de bares e restaurantes que a cidade oferece. Cada fim de semana tenho indo num bar diferente. O objetivo é nunca repetir o bar, até conhecer um número significativo deles (acho que vai levar pelo menos um ano). Adoro as várias opções de cerveja que encontro por aqui e já até não ligo mais para o fato de ter que beber cerveja sem pastel, calabresa, mandioca frita, picanha fatiada com catupiry e afins. Acho que é porque quando se bebe Itaipava você precisa de algo que ajude a cerveja a descer. Mas quando você pode escolher uma boa cerveja, você não precisa de acompanhamentos.
Obs: na minha cidade no Brasil, 90% dos bares só serviam uma marca de cerveja. Era aquela porcaria e pronto. Saudades zero!
Adoro as mil opções de entretenimento por aqui. Sempre tem algo pra fazer. Às vezes tem tanta opção que fica difícil conciliar tudo. Cinemas, galerias, exposições, shows... Mês passado fui num show não divulgado para somente 200 pessoas do Arcade Fire (graça aos amigos que ficaram na fila por mim) - lançamento do álbum novo "Reflektors". Duas semanas depois, ia no show do Stereophonics (que amo demais), mas chegando lá tinha um aviso que o show tinha sido cancelado na última hora!. Duas semanas atrás foi a vez de Kings of Leon, de graça, na Place des Arts. Essa semana tem Franz Ferdinand (ainda to pensando se vou ou não), e ontem perdi o show da Lou Doillon (fiquei sabendo na ultima hora, não tinha mais ingresso :( !!!). Fora todos os outros concertos de artistas não tão conhecidos que rolam todos os dias em algum canto da cidade.
Adoro a localização da cidade, entre Toronto, Ottawa, Québec e os EUA. Estou louca pra por o pé na estrada e passar um fim de semana em cada canto, em cada ptt coin de la province. Há umas três semanas fui pra Mont-Orford, à convite dos amigos do Voilà Pourquoi, ver as lindas cores do outono, fazendo hiking - pela primeira vez desde que cheguei. Foi maravilhoso e voltei decidida a explorar mais os parques e as cidades do Québec. Fim de semana passado foi feriado de Ação de Graças e fui pra New York... tão fácil! Foi ótimo passear um pouco e aproveitar os precinhos mais em conta dos EUA pra comprar meu casaco de inverno e outras coisinhas mais.
Parc National du Mont-Orford |
Adoro as bibliotecas de Montréal. Não tem nem muito o que comentar. Amo demais.
Estou começando a adorar bacon, manteiga de amendoim, maple, poutine e outras gordices canadenses. Fora que ultimamente só como chocolate se tiver caramelo junto. E por incrível que pareça ainda não senti falta de churrasco, bolinha de queijo, pastel, mandioca, brigadeiro, bolo de chocolate da doceria da família, do peixinho grelhado do meu almoço de quase todo dia entre outros. Às vezes bate aquela vontadinha mas nada desesperador. E depois, já fui em várias festinhas de brasileiros com guloseimas brazucas que mataram as lombrigas.
Adoro a educação das pessoas por aqui. Lógico que sempre tem os mal educados, em todo lugar né, mas no geral o povo é bem mais educado e simpático que no Brasil. Sim, simpático. No trabalho eu fico sempre besta de ver como o povo em geral é simpático, sempre se desculpando por incomodar (coisa de canadense, e eu sou exatamente assim), sempre elogiando pequenos gestos, pequenas ações... muito diferente do que eu estava acostumada. E quando preciso falar com algum service à la clientèle então? Nossa, no Brasil eu dava tudo pra não ter que ligar pra um telemarketing e aqui o povo que te atende é sempre tão mais eficiente, mais simpático, mais solícito. Não vou dizer que isso seja a regra, mas comigo 80% das vezes foi assim.
Bom, e como eu adoro passar o meu fim de semana fora de casa, vou terminando o post por aqui porque a vida não me espera e tem coisas mais interessantes do lado de fora da maison pra fazer.
Ah, e uma mensagem pros colegas que estão esperando seus processos terminarem, angustiados aí no Brasil: força, coragem. Logo termina. E a recompensa será enorme! A espera vale a pena.
Bisous!