domingo, 8 de janeiro de 2012

Insegurança

Hoje pela primeira vez desde que decidi imigrar senti uma sensação de insegurança. Estava assistindo a reprise do téléjournal da Radio-Canada e vi notícias sobre o aumento do desemprego no Québec.
Venho acompanhando esse assunto já há algum tempo mas nunca havia realmente refletido sobre ele. Era como se isso fosse apenas mais números e estatísticas dentro da minha cabeça já repleta deles.
Mas hoje eu me peguei pensando: se está difícil para um québécois conseguir emprego, quem dirá para uma recém-chegada que nem fala francês direito? E se eu passar meses e meses e nada? E se eu passar um ano procurando emprego e nada?

Eu sei que pode parecer estúpido mas fiquei meio angustiada. Logicamente sei que não vou chegar lá e conseguir um trabalho de cara. E estou preparada para isso. Estou preparada para estudar (e muito) francês por alguns meses logo que chegar e só depois tentar entrar de verdade no mercado de trabalho. Mas e se quando chegar essa hora, a hora da verdade, eu falhar? E nem estou falando de emprego na minha área, mesmo porque estou mais perdida do que cego em tiroteio e pretendo abrir bastante meu leque de opções quando começar minha busca por um emprego. Estou falando apenas de conseguir um trabalho para poder me sustentar.

Acho que eu nunca havia pensado antes na possibilidade do fracasso. Na possibilidade de tentar de tudo e nada dar certo. Já havia sim pensado na possibilidade de me arrepender e querer voltar, de achar que as coisas lá seriam no geral melhores e quebrar a cara, de me sentir muito sozinha e não aguentar a saudade, e eu estou ok com tudo isso. Estou indo tentar uma outra vida, se não der certo, eu volto, ou eu vou pra outro lugar. Mas e se eu quiser muito ficar lá e não tiver trabalho? Nisso eu nunca havia pensado.

Racionalmente eu sei que posso trabalhar em qualquer coisa, que posso na pior das hipóteses fazer faxina, ser ajudante de cozinha, fazer qualquer tipo de trabalho braçal, pois tenho garra e força de vontade e não me sentiria incomodada de forma alguma em fazer esse tipo de serviço (teoricamente mais fácil de se conseguir).

Mas emocionalmente eu fico pensando: e se até isso me faltar?
Acho que esse assunto aflorou o sentimento de uma possível derrota e um tipo de derrota para o qual eu não me preparei psicologicamente. A derrota de querer ficar lá a qualquer custo mas por algum motivo maior que eu, ter que voltar. Talvez seja a mesma sensação de quando penso na possibilidade do meu visto ser negado. É difícil mas pode acontecer. O que eu faria? Não sei. Não sei. Não sei. Me recuso a pensar sobre isso. Me recuso a aceitar a idéia de que isso possa acontecer. Eu já não consigo mais conceber minha vida no Brasil. Acho que se isso acontecesse não me restaria outra alternativa a não ser colocar uma mochila nas costas e tirar um ano sabático. E levar um psicólogo a tira-colo para ver se eu consigo me entender de uma vez por todas.

Bisous!

4 comentários:

  1. Olha... Para ser sincera esse medo também me assola. De vez em quando me vem o pensamento terrível à mente: 'e se...?'

    Daí eu me ponho a pensar nas coisas mais absurdas: e se eu não conseguir um primeiro emprego (de qualquer coisa) logo? E se no final do primeiro ano eu não conseguir entrar no mestrado? (Meu plano A) E se eu conseguir entrar no mestrado, mas der tudo errado e eu me dar mal? E se...? E se...?

    Mas diferentemente de você esses pensamentos são frequentes na minha cabeça. Eu sempre tenho medo do pior acontecer, sei lá porque, talvez eu seja meio pessimista por natureza. Fico imaginando mil e uma soluções pra minha vida caso o Canadá desse errado e voltar para o Brasil é sempre a última opção. E talvez justamente por esses pensamentos serem frequentes, eu sei que são inofensivos. Uma imigração bem planejada e a certeza de que é no Canadá que você quer fazer a sua vida (no sentido mais profundo da coisa) são as únicas garantias que temos de que sim, nosso processo de imigração DARÁ CERTO.

    Mesmo que tenhamos que mudar de área, fazer cursos, nos reconstruir. :)

    Beijos,
    Lídia.

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  2. Também tenho esses pensamentos, eram mais freqüentes no início do processo, mas de vez em quando ainda me assolam. O que me preocupa é que minha área é muuuito ampla, então posso ficar "tentando" por muito tempo, em várias frentes. Mas e aí, até quando seria um tempo bom para poder ficar errando? Não por causa de $ pra viver só estudando francês, mas por realização pessoal mesmo. Eu quero ter filhos, e se eu não conseguir encontrar algo legal logo, com um bebê imagino que seria ainda pior. E a idade passando...
    Espero poder fazer um estudo mais aprofundado do mercado de trabalho estando lá, tenho tentado fazer daqui, mas é complicado achar as fontes certas. No Brasil por exemplo na imprensa a construção civil tá bombando, mas eu que sou da área vejo que na prática mesmo, não é bem assim.

    Acho que temos que estar dispostos a mudar de área se necessário e a estar bem do comecinho dos degraus hierárquicos, com a mente aberta pra esse lado acho que dará tudo certo! Somos imigrantes QUALIFICADOS, fomos SELECIONADOS, não podemos esquecer disso.

    Abraço,
    Ana.

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  3. calma... acho q tds q estão na mesma etapa q vc se sentem, sentiram ou sentirão assim. conforme o tempo passa td vai ficando mais real. o importante é estar ciente das dificuldades, planejar td bem e correr pra alcançar os objetivos. molezinha não vai ser mas acho q quem está bem preparado pode conseguir um lugarzinho ao soleil... ahahaha... a gente chega lá. imagina eu, com filho pequeno o q não estou tremendo na base caso td dê errado... otimisto!!! não vai dar!!!
    abraços

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  4. As vezes me bate esse tipo de paranóia porém eu sou da seguinte opinião, aquele que deseja trabalhar vai conseguir trabalho. E o negócio é manter sempre o pensamento positivo!
    Bjs.,
    Neila

    PS: a faxineira da minha ex-tutrice do FEL é brasileira.

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