terça-feira, 31 de julho de 2012

Les rêveries de juillet


Ando procrastinando há dias. Quando sento na frente do computador para escrever no blog eu desanimo e deixo pra lá. E nessa vai se passando o tempo e os sentimentos na minha cabeça e no meu coração vão oscilando, oscilando e chego a um ponto em que não sei mais o que pensar, o que fazer.

Tenho tentado me manter sã com relação ao processo. Coloquei na cabeça que antes de junho de 2013 o processo não acaba. Acho que isso foi bom porque pelo menos assim eu não fico mais contanto os dias e sofrendo com a demora insana do consulado. O único problema vai ser se passar de junho do ano que vem. Tenho visto muitos pedidos de exames chegando pra galera de dezembro e janeiro o que ratifica minha esperança de que o processo vai andar sim.

Este mês fiquei bem mal (fico toda vez que paro pra pensar na verdade) quando me dei conta que lá se vai mais um ano da minha vida e eu aqui no stand-by. Vejo meus familiares, meus amigos, alguns conhecidos, progredindo, sendo promovidos, começando cursos, comprando casas, investindo para o futuro e eu olho pra mim e nada. Mais um ano vai se passar e eu aqui na mesma: sem me achar profissionalmente, com minhas economias paradas, sem poder tomar grandes decisões, sem uma vida social satisfatória e outras. Dá um aperto no peito. Sei que foi escolha minha, mas uma escolha que não sabia que duraria tanto tempo para ser concretizada. E o mais angustiante é saber que mesmo depois de tanto esforço pode ser que não dê em nada, que o visto não saia e eu fique a ver navios. Haja força mental.

Depois de passar dias pensando nisso tentei esquecer um pouco esse processo e gastei meu tempo livre planejando minhas férias. Foi muito bom ficar mentalmente distante disso tudo, mas ao mesmo tempo eu acabei perdendo o foco e faz mais de um mês que não estudo.

Agora eu arranjei outra distração: as Olimpíadas. Amo esporte, sempre sonhei em assistir uma Olimpíada in loco e quem sabe um dia não realizo meu sonho. Enquanto isso me contento, e bastante, com os 4 canais do Sportv. Aliás eu estou torcendo pro Canadá tanto quanto para o Brasil (foi uma pena o Raonic perder pro Tsonga no 48° game do terceiro set – a partida de tênis mais longa da história das Olimpíadas).

Nos últimos meses eu entrei num estado de inércia para com a situação do Brasil. Não leio mais jornal, não assisto TV, não quero saber do que se passa na política, na sociedade, na cultura... cansei. Achei melhor não saber pois tudo me faz querer fugir daqui o mais rápido possível. Infelizmente esse ano tem as malditas eleições e os malditos panfletos dos políticos bandidos e caras de pau se amontoam nas calçadas me fazendo lembrar da política suja e corrupta desse país. Tenho nojo. Tenho muito nojo. Gente que não sabe escrever o próprio nome se candidatando a vereador. Vão legislar o quê? Não consigo acreditar na idoneidade de político algum. O pior é quando vejo pessoas conhecidas entrando (ou querendo entrar) nesse mar de sujeira. Pra ganhar seus 10k todo mês sem ter trabalho algum. Fora o que levam por debaixo do pano. Fico p. Fico arrasada.

Um amigo agora é professor de física do Ensino Médio em MG. A orientação da diretoria da escola é: “aprova todo mundo porque se os alunos não apresentarem boas notas nós não recebemos verba”, mesmo quando vários alunos confessaram que não sabem ler nem escrever e não sabem o que estão fazendo ali pois não entendem absolutamente nada da aula.
Sim. Isso me fez lembrar uma ex-funcionária minha que era formada no Ensino Médio e não sabia o que era adição e subtração. Não preciso falar do resto né. Isso porque eu não moro no sertão nordestino ou numa aldeia longínqua do Pará.

Cansei de tudo isso. Cansei desse povo ignorante. Cansei dos malditos carros de som passando com volume ensurdecedor na frente do meu trabalho a cada 5 minutos. Daqui a um mês será um carro de som a cada minuto, com musiquinhas grudentas e desafinadas vangloriando esses políticos de merda. Cansei de tanto buraco nas ruas. Cansei de pagar imposto e pagar também educação, segurança, saúde. Cansei de ficar com medo toda vez que o telefone toca em horas impróprias achando que é o pessoal do sistema de alarme. Cansei de ter que sair de casa no meio da noite para checar se não tem arrombamento no local do meu trabalho porque o alarme não para de disparar. Cansei de ver gente sendo assaltada à mão armada na rua do meu trabalho (que é em frente a um banco). Cansei de ver gerente de banco semi-analfabeto porque nesse país a educação não é valorizada e todo mundo escreve e fala errado e tá tudo bem.  Cansei de pagar caro, muito caro, por serviços mal prestados. Cansei de ver o preço de tudo no Brasil escalonar absurdamente, só o meu salário que não. Cansei de ver tanta miséria, falta de atendimento hospitalar, falta de salas de aula, professores extremamente mal remunerados, e o governo gastando os tubos construindo estádios de futebol (e muitos inclusive se tornarão grandes elefantes brancos depois da Copa).

Cansei de tanta coisa que cansei até de listar. O pior é que eu sei que vou continuar cansando dessas mesmas coisas e de tantas outras não importa onde eu esteja. Mas eu preciso tentar descansar. A vida tem que ser mais que isso. Mais do que ter que fechar os olhos para tudo ou viver reclamando.

On y va, on y va,  vamos tentar!

E pra completar o post, um resumão do timeline de julho:

17 meses desde o envio do meu dossiê para o BIQ
13 meses de processo federal
1 ano de blog
e hoje 6 anos sem meu pai. Dói demais. Sempre penso o que ele acharia da minha decisão. Acredito que teria seu apoio, afinal o que ele sempre quis foi me ver feliz.

Et c’est la vie! Vem agosto lindo, vem. Vem que minhas férias tão chegando!!!

Bisous!

8 comentários:

  1. Camila,

    É assim que eu me sinto também. Está bem complicado. Ninguém nos prepara para essa espera, e é realmente angustiante ver todos ao redor conquistando coisas, dando passos e a gente estagnado. É muito difícil manter boas expectativas com esse processo. Somos da mesma época e eu coloquei a conquista do nosso visto para março. Vamos ver no que dá. Força para a gente, só nós sabemos como estamos precisando...

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  2. Uauuu...
    nossa, fiquei arrepiada ao ler seu post...
    O sentimento que eu tenho é exatamente o mesmo.
    Camila, sei que é impossível não se sentir cansada com essa situação toda. A gente ver o tempo passar, as pessoas evoluirem e nós ficamos pausadas, sem poder fazer maiores planos. É muito dificil. Te entendo completamente.
    Vamos continuar na torcida para que essa angustia acabe logo.
    Td de bom pra vc! Se precisar de qualquer coisa, não exite em me gritar!
    Abraços,
    Monique

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    1. VAleu Monique!
      Nossa torcida vai dar certo. Falta pouco.
      Bjos

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  3. Ai, Camila... A minha identificação com esse seu post é tanta que nem sei o que dizer para não soar clichê demais... Eu o li logo que você publicou, mas demorei para comentar justamente por isso, falar o que?

    Concordo com tudo o que você disse e me sinto tocada principalmente com a parte relativa às comparações que fazemos entre nós e os outros... Estou desde junho/2010 envolvida com esse processo, focando só nele, trabalhndo para ele, investindo nele e nesses 2 anos já aconteceu tanta coisa ao redor de mim! Outras pessoas realizaram várias conquistas nesses 2 anos e eu, o que eu fiz? Estudei francês, inglês e poupei cada centavo para começar uma vida nova sabe-se lá quando!

    É realmente muito difícil quando pensamos assim e nos encaramos como "estagnadas". Com essa visão o desespero bate mesmo! Minha vida só começou a melhorar quando eu resolvi investir nas minhas férias, é o que tem me distraído. Mais para o fim do ano vou conhecer Buenos Aires e se essa droga de visto não chegar até novembro, vou comprar as passagens para ir conhecer Santiago no começo do próximo ano. Vai ser um dinheiro que talvez faça falta no início de vida no Canadá? Muito provavelmente... Mas não adianta eu terminar esse processo esgotada e infeliz por ter passado, sei lá, 3 anos da minha vida sem fazer praticamente nada...

    Por enquanto estou vivendo minha vida de maneira relativamente edonista: planejando as férias, saindo com amigos sempre que posso, recebendo pessoas em minha casa, curtindo a família, lendo muito, indo ao cinema toda semana, enfim, fazendo coisas que sei que não poderei fazer no comecinho de vida em Montréal pro falta de dinheiro/tempo/amigos. É o que tem salvado minha sanidade!

    Espero que você consiga manter seu equilíbrio até o final dessa tortura. Tenho certeza de que, ao chegar em terras geladas, vamos olhar para trás e constatar que tudo valeu a pena!

    Beijos,
    Lidia.

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  4. Lídia,
    acho que curtir as coisas boas que temos aqui é realmente tudo o que podemos fazer e tb é o que nos ajuda a seguir em frente.
    Assim como vc eu tb resolvi tirar férias e viajar. Talvez não devesse gastar essa grana agora, mas ao msm tempo eu não tenho luxo algum e viajar é um dos meus poucos prazeres na vida. Acho que não podemos abrir mão de tudo o que nos faz felizes. E enquanto esperamos seguimos firmes e confiantes de que toda essa espera valerá muito a pena.
    Bjos

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  5. Oi Camila... acho que de tanto pensar nesse processo, a gente acaba mesmo transmitindo pensamentos! Vc disse que, por vezes, eu coloquei seus pensamentos em palavras... bom, neste post, vc é que colocou os meus!

    Eu tento manter o ânimo, mas a verdade é que não é fácil arrumar motivação aqui no Brasil, com a cabeça lá no Canadá. E as notícias, que sempre me fizeram tão mal, já abandonei faz tempo. Não quero nem ouvir falar! Sou o avesso da jornalista. Com a costura e a etiqueta pra fora... rsrs

    O pior é que comecei a abandonar, também, os amigos (que horrível isso!) e me questiono se é por conta das comparações, de vê-los progredindo enquanto estou nessa espera, ou simplesmente por já não me interessar pelo estilo de vida que levam. Dói dizer isso, mas mesmo que o carinho permaneça, é bem desgastante estar presente na vida de quem valoriza coisas muito diferentes das suas!

    Sinto que estou criando um abismo à minha volta. Nada de mau chega, mas nada de bom também. Nessas horas é muito bom ler um post como o seu e ver que tem gente que sente e se revolta por coisas parecidas com as nossas. Indícios de que deve ser só uma fase.

    Obrigada por compartilhar pensamentos tão íntimos, tentei retribuir aqui com toda a minha sinceridade. Ah! E parabéns pelo blog... tbm já li ele todinho em outra ocasião!!! Adoro quando tem post novo! ;)

    Beijão!

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  6. Andrea... vc tocou num ponto sobre o qual nunca falei mas que é mto presente tb: os amigos com estilos de vida e pensamentos muito diferentes dos nossos. Às vezes amizades muito antigas ainda são sustentadas, mas é pelo carinho, porque em muitos casos não há mais nada em comum. Cada pessoa tomou um rumo diferente e pensa hoje de maneira muito diferente, valorizando coisas que tenho como banais e vice-versa.
    É triste mas penso que hoje em dia muitos dos meus amigos do passado não seriam meus amigos se os conhecesse agora.

    Mas é a vida né. Cada um escolhe o seu caminho e temos que respeitar a escolha de todos.

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